sexta-feira, 23 de abril de 2010

maratas

Maratas são povos indo-arianos, vegetarianos e absténicos, guerreiros, agricultores e proprietários, os quais, empurrados para o sul pela chegada dos muçulmanos à Índia pelo NW, no século VIII, estabeleceram-se no Decão, ocupando a faixa costeira entre Damão e Goa. Atualmente habitam o Estado de Maharastra na Índia. Maharastra significa “Grande País” ou “Grande Rata” seja grande carro usado nas atividades guerreiras. Foram protegidos mais tarde pelos reis de Bijapur, concedendo-lhes terras em recompensa do serviço militar nas guerras contra os mongóis.  Possuíam um grande número de portos fortificados e dispunham de uma armada importante chegando a atingir setenta navios entre gurabos, palas e galvetas. Os gurabos eram navios de três mastros semelhantes às fragatas europeias, mas mais pequenos, menos robustos e pior armados; as palas eram navios de dois mastros semelhantes aos patachos europeus, mas também de pior qualidade; as galvetas eram navios mistos (vela e remo). Das guarnições dos navios maratas faziam parte numerosos artilheiros ingleses e holandeses a troco do soldo superior ao das suas respetivas Companhias.  Inicialmente, abstiveram-se de atacar os navios portugueses e ingleses, mas à partir de 1650, quando os portugueses tiveram problemas com os árabes de Omã, passaram também a atacar os navios portugueses. Dos inúmeros combates que a armada portuguesa da Índia travou com os Maratas destacou-se da nau Nossa Senhora da Misericórdia contra uma esquadra marata composta por 3 gurabos, 7 palas e 11 galvetas. A nau Nossa Senhora de Misericordia encontrava-se em  Calicut a carregar madeira para o arsenal de Goa, quando seu comandante Melo Saraiva, tendo visto a esquadra marata  fez-se ao mar. Entretanto acorreram à praia o Samorim, embaixadores de várias nações europeias que tinha na sua corte e muitos populares, mas pensaram, que a nau portuguesa fugira para evitar o combate, deixando-os à mercê dos maratas, quando subitamente verificaram que a  Misericória se lançara contra a esquadra marata. Combate que durou 5 horas, em que  a grande parte dos navios maratas foram destruidos, causando-lhes muitas baixas e obrigando-os a reirada. 

Em 1674 seu chefe Shivaji conseguiu resistir aos mongóis e foi coroado imperador dos hindus. Seu sucessor Sambji invadiu Goa, em 24 de Novembro de 1683 com 20 mil homens, 4 a 5 mil cavaleiros e 10 elefantes e apoderou-se das terras de Bardez e Salcete, dos fortes de Tivim e Chaporá, da povoação de Margão, das Ilhas de S. Estêvão e cercou a fortaleza de Rachol. Esta  ocupação é conhecida como Grande Invasão. O vice-rei, Conde de Alvor, atacou-os na Ilha de S. Estêvão com 400 soldados, recrutados a última hora, os quais face ao poder inimigo entraram em fuga e muitos perderam a vida nas águas lodosas dos canais que cercavam a ilha e o heróico vice-rei ficou apenas 50 homens, com quem se resistiu durante toda a noite, retirando-se de manhã seguinte. Na noite seguinte mandou para a ilha de S. Estêvão a armada que estava preparada para a praça do norte de África, mas os invasores, pensando que era que era um grande exército comandado por Akbar, filho primogénito do grande imperador monghol, retiraram-se no dia 25/11/1683, e deixaram a artilharia e muitas armas que não tiveram tempo de as levarem. No documento oficial o vice-rei, referindo-se ao episódio apenas diz “os maratas fugiram devido a outras forças superiores” e face ao mistério mandou expor o corpo  de S. Francisco Xavier e depois de orações e penitências lhe entregou o seu bastão de general, declarando-se que dali para o futuro o grande apostolo do oriente seria o verdadeiro governador-geral do Estado da Índia.

Neste período, além do declínio religioso, há uma maior contestação do poder português, por parte dos árabes, ingleses e holandeses e uma guerrilha prolongada dos maratas. Em 1739 os portugueses fizeram um acordo de paz com os maratas a fim de cessar ataques a Goa e  largaram Baçaim, capital da Província do Norte, e com ela  todas as praças entre Damão e Bombaim, mas, apesar do acordo, dois grandes exércitos maratas atacaram Goa e as autoridades refugiaram-se em Mormugão e esqueceram-se o venerando corpo de S. Francisco Xavier, fato que consideraram ser a vontade de Deus que ele se conservasse em Goa, terra que na sua vida ele  tanto amara (em 1958, dia 30 de Dezembro, chegou a Goa o Governador-Geral, Vassalo e Silva, que foi recebido com o tradicional colar de flores ao pescoço e numa cerimónia própria foi-lhe entregue o bastão de S. Francisco Xavier). Os maratas assim ficaram com Guzerate, Orissa, Chaul e Baçaim e as Ilhas de Salsete ao longo de Bombaim e em 1740 a frota portuguesa encontrava-se destruída.

Contudo  uma expedição de mais de 2 000 soldados com artilharia chegada  de Lisboa em 1740 derrotou o exército marata em Bardez, dando início a uma campanha de pacificação até a década de 1750, seguidas de outras campanhas de 1779-1795, em que as armas portuguesas, embora sofrendo algumas derrotas, incluindo a prisão e a morte do vice-rei, Conde de Alvor em 1756, anexaram ao território de Goa uma área quatro vezes superior ao seu tamanho, por conquista e negociações, como o acordo com o Rei de Sundem, mas pouco povoado, área que foi designada de “ Novas Conquistas “, em complemento das “Velhas Conquistas”, limite que se manteve até ao séc. 20. Estes novos territórios são Pernem, Quepem, Pondá, Canacona e Cabo de Rama. Os maratas em Goa são designados de Sardessai, Dessai e Rans.
As Novas Conquistas eram habitadas por ranes, uma classe nobre dos maratas,  mas foram acusados de promotores de revoltas contra atos da administração local, como a Revolta dos Maratas, 1895-1896 - uma insubordinação dos soldados maratas, consequente da mobilização de 2 companhias maratas para Moçambique, o que segundo os preconceitos religiosos dos maratas, se atravessassem o mar perderiam a casta. Os amotinados refugiaram-se no Forte de Nanuz e invadiram Mapuça e Sanquelim, dando início a guerrilha e emboscadas, mas uma expedição militar sob comando de infante D. Afonso chegou a Goa em 12/11/1895, e substituiu o governador na altura, com o cargo de vice-rei, 19/3/1896 - 27/5/1896. A sua ação acalmou os revoltosos e estes foram amnistiados.  
Ramji Satraji Ranes Sar Dessai, representante dos ranes de Sanquelim, foi visitado em 1959 pelo governador-geral, Vassalo e Silva, no seu palácio de Cane, em cujo salão nobre admirou a  galeria dos retratos, entre os quais, em  destaque, do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia e do Infante, D. Afonso, que fora hospede do rane de Sanquelim quando na Índia, e apreciou também as variadas espadas de elevadíssimo valor, entre as quais a espada de prata com a coroa portuguesa em ouro que o infante, D. Afonso lhe oferecera em recompensa dos seus serviços ao governo português durante as revoltas. Também ali admirou  o rico palenquim incrustado em ouro e pedras preciosas, oferta do marajá de Gualier - uma filha da casa de rane foi rainha do Estado de Gualier. O palácio tem mais de 500 anos.

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