terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Estado da Índia Portuguesa

ESTADO DA INDIA PORTUGUESA - Era inicialmente designado como Estado da Índia todo o espaço marítimo que se extendia da costa oriental africana até ao Extremo Oriente, seja de Sofala em Moçambique até a Macau e Timor. Goa funcionava como capital. Era governado por um Governador, sediado em Goa e nomeado pelo rei por um período de 3 anos, raramente reconduzido. No acto da sua posse ele recebia 3 cartas seladas e lacradas, e numeradas em 1, 2 e 3, indicando respectivamente os três substitutos pela ordem numérica. Esta substituição era interina, e dava-se no caso da morte ou deposição do vice-rei ou por qualquer outro impedimento, até que o monarca nomeasse o seu sucessor que seria vice-rei, caso fosse de linhagem distinta, alguém com grande prestígio e autoridade e neste caso tinha poderes quase reais,  caso contrário, era chamado Governador-Geral. O governador nomeava as autoridades locais, dirigia as campanhas agressivas e defensivas, orientava a política económica, mantinha e fazia cumprir a lei. Era assistido por um Secretário, mas nos meados do século XVI passou também por ser assistido por um Conselho de Estado. De 1505 – 1550 houve 11 governadores-gerais e 4 vice-reis: D. Francisco de Almeida, D. Vasco de Gama, D. Garcia de Noronha e D. João de CastroDe. 1550 a 1668 houve 27 vice-reis, contra 13 governadores. A alta nobreza: Menezes, Mascarenhas, Noronhas, Castros e Coutinhos ocuparam metade dos 40 lugares de governador ou vice-rei entre 1550 e 1671.

Devido a expansão territorial das feitorias e por necessidade duma melhor defesa e administração, o monarca na década de 1570  dividiu o governo  em 3 áreas:

a) África Oriental até ao Ceilão, administrados pelo Vice-rei da Índia, em Goa;

b) Ceilão ao Pegú e Birmânia, administrados pelo governador subordinado ao vice-rei da Índia;

c) Pegú a China, administrados pelo governador subordinado ao vice-rei da  Índia.

Na primeira Constituição Portuguesa de 1822 e na Carta Constitucional de 1826 consta que os territórios asiáticos eram constituidos das parcelas de Salcete, Bardês, Goa, Damão e Diu, na Índia, e,  Macau, Ilhas de Solar e Timor, no Extremo Oriente, formando no seu todo um único governo-geral. Houve tentativas inglesas para ocupação de Goa entre 1799 e 1913. No dia 06.09.1799 com o pretexto de que a França enviara uma esquadra para atacar Goa, as forças inglesas de Bombaim entraram em Goa com 3 batalhões e dois destacamentos, incluindo artilharia, sob o comando do Coronel William Clarke, que, no entanto sempre prestou homenagem ao Governador de Goa, Veiga Cabral. As tropas inglesas ocuparam também Damão e Diu. Com a derrota de Napoleão Bonaparte em 1813, as tropas inglesas deixarm os territórios da Índia Portuguesa em 02.04.1813.

GOA - FORMAÇÃO TERRITORIAL: Segundo a lenda, no passado as águas do oceano Indico chegavam até as montanhas dos Gates, onde  o povo andava sem abrigo e esfomeado. O deus da mitologia hindu, Purisrama, subiu ao mais alto cume das montanhas e decretou que até onde caísse a seta, que ia lançar, as águas do mar se transformariam em terra; lançou a seta e deu-se o milagre e a terra foi dividida e arroteada irmãmente por todos aqueles esfomeados e assim nasceu Goa e as comunidades; estas administravam as terras, propriedade colectiva e inalienável, de todo o povo local, e o seu usufruto passava de pais para filhos, alugavam as terras para a exploração agrícola aos respectivos membros e até mesmo aos estranhos, e os seus lucros eram distribuídos igualmente pelos seus membros; mantinham escolas, postos médicos, templos e assistência pública, para o benefício de todo o aglomerado; eram organizações milenárias de carácter corporativo. O Anuário da Administração das Ilhas, de 1904, informa:”As 145 comunidades das aldeias das Velhas Conquistas, primeiro território conquistado, e as 281 comunidades das Novas Conquistas, constituem riqueza segura de Goa; estas associações agrícolas são de fundação imemorável; Afonso de Albuquerque, fundador do império lusitano da Índia limitou-se a receber os foros e as contribuições que os nativos pagavam ao dominante anterior, e assim respeitou o modus vivendi.” Goa, portanto, bàsicamente é formada de Velhas Conquistas e de Novas Conquistas.

GOA - ETNOGRAFIA, CULTURA E ECONOMIA: Os habitantes originários da Índia são os dravidianos, os quias 2 000 a.C são empurrados e dominados pelas invasões dos arianos vindas pelo norte da Índia. Os fenícios por volta de 1775 a. C estabeleceram-se em Goa. Entre os séculos XI e XIV os povos Kadambas reinaram no Concão com sede em Chandarapura, hoje aldeia goesa de Chandor. Por volta de 1347 o Concão sofreu o domínio islámico e muitos templos hindus foram destruidos e em 1498 o sultanato muçulmano de Bijapur estabeleceu-se em Goapuri e mudou o seu nome para Ela, hoje Goa Velha e introduziu a administração persa e o comércio de cavalos da Arábia. Em 1510 Afonso de Albuquerque conquistou Goa aos muçulmanos e com a sua política de casamentos interrácicos a  sua população veio a classificar-se em: Reinós, naturais de Metrópole e de linhagem nobre; Castiços, nascidos do pai europeu e mãe indiana branca; Mestiços ou luso-descendentes, de cor amulatada, de pai europeu e mãe indiana não branca; Mulatos ou luso-africanos; Canarins ou indianos convertidos; Escravos de origem muçulmana e indonésia; Hindus e muçulmanos.

Antes da conquista por Afonso de Albuquerque em 1510 este território de Goa tinha um sistema educativa, chamado Parisha, financiado pelos kadambas hindus, apenas masculino, exceptuando as dançarinas dos templos. Ensinavam a língua local, escrever, ler e contar, usando a escrita sanskrit.  Os muçulmanos tinham a sua educação separada, ensino de Corão, e sharia (lei islâmica). Com a chegada dos portugueses a educação também passou a ser dada as raparigas no ensino básico e mantiveram o sistema administrativo e os direitos e os costumes foram codificados por Afonso Mexia: Foral dos Usos e Costumes dos Gauncares e Lavradores da Ilhas de Goa e outras anexas a Ela de 1526.; Foral dos Foros e Contribuições de Taxas de 1541, mais tarde Regimento de 1753, Decreto de 1836: Código das Associações das Vilas de 1908 e o Código de 1961. Em 1510 haviam em Goa nas Ilhas 116 templos locais de culto e ensino, em Bardez 176 e em Salcete 264 e na costa de Malabar existiam cristãos desde anos 300 e hindus, budistas, jeins e muçulmanos; Portugal introduziu o piano, mandolim e violino, na música, e o quimão vestimenta das mulheres e o mandó e durante 1510 – 1961 prevaleceu harmonia comunal e religiosa).

Nos começos dos anos da década de 1950, baseando no plano económico de desenvolvimento do ultramar, foram feitas obras de irrigação em Parodá e Candeapor para desenvolver a produção de arroz, obras de saneamento básico,trabalhos  de prospecção geológica e de exploração mineira, minérios de ferro e manganésio, de melhoramentos de caminhos-de-ferro e do porto de Mormugão, construção do aeroproto civil de Dabolim em 1954,  e no plano ideologico surgiu o discturso "luso-tropicalista" sobre a especificidade social e culturalmente miscigenadora, pigmentocracia, criando a legitimidade científica na defesa de Portugal pluricontinental, seu mentor foi Gilberto Freire que pela primeira vez usou a expressão "luso-tropicalismo" no Instituto Vasco de Gama em 1951, em Goa, e depois a ideia foi  defendida oficialmente.

GOA-VELHAS CONQUISTAS: O principal rio de Goa é o  Mandovi, que em sanscrito pronuncia-se Mhadei e significa "Mãe Grande" em que: Mha é mãe e Dei é grande. Goa por volta de 1000 - 500 a.C era conhecida por Gomantak em sanscrito, significando "terra semelhante ao paraíso, fértil e com boas águas, situada entre o Rio Mandovi e o Rio Zuari. O local também era referido como Gomata como veneração da vaca como mãe, em que Go palavra sanscrita é vaca e mata é mãe, significando a mãe-vaca. Também era designada por Goapuri ou Ela. Quando Afonso de Albuquerque conquistou Goa, ao rio Mhadei chamou Mandovi e ao local Gomantak chamou Goa. Esta Goa  então fazia parte do sultanato de Bijapur e era uma povoação, hoje conhecida como Velha Goa, comcentrada entre o Rio Zuari e o Rio Mandovi.

Afonso de Albuquerque como Governador chega a Cochim em 1509 com o plano de ocupar pontos estratégicos e aí estabelecer armadas fiscalizadoras, como em Aden, Ormuz e Malaca. Na impossibilidade de entendimento com o rei de Calecut, conquistou Goa em Março de 1510, sem resistência muçulmana e os populares o entregaram as chaves da cidade, mas passados dois meses as forças de Adil Shah em 23.05.1510 obrigaram Albuquerque a retirada para o estuário do Rio Mandovi a espera da Monção, onde os hindus locais deram-lhe as provisões logísticas. E é por isso que a comunidade de Taleigão tem o privilegio simbólico de oferecer ao vice-rei e ao bispo as amostras da primeira produção de arroz em Agosto de cada ano. Chegada a monção Albuquerque foi a Ilha de Angediva e obteve reforços dos barcos vindos de Portugal e conquistou Goa em 25.11.1510, na margem do rio Mandovi,um território situado entre o Rio Mandovi e o Rio Zuari, em 20/5/1510, ao sultão de Bijapur, Yusuf Adil Shah, mas devido as más condições de defesa e dificuldades na logística.  Mas Afonso de Albuquerque reapareceu, acompanhado de Diogo Mendes de Vasconcelo, com uma frota  totalmente renovada e formada de 28 navios com 1700 homens e com reforço das tropas de Timoja e do rajá de Jersape, e  depois de ter passado 11 dias em Angediva, reconquistou Goa, no dia de Santa Catarina, em 25 de Novembro de 1510. Os muçulmanos e seus aliados otomanos  renderam-se sem combate a 10/12/1510. Depois da vitória com  os seus soldados ajoelhou-se para dar as graças a Deus e  naquele lugar ergueu uma capela, a Ela dedicada, de taipa coberta de palha e que depois foi substituída por uma capela de pedra, situada na porta da extinta muralha da cidade maometana e que mais tarde em 1550 o Governador Jorge Cabral mandou-a ampliar. No  seu interior numa parede existe a inscrição “Aqui neste lugar estava a porta pela qual entrou o governador Afonso de Albuquerque e tomou esta cidade aos mouros no dia de Santa Catarina, em 1510, e em cujo louvor e memória o Governador Jorge Cabral mandou fazer esta casa no ano de 1550 à custa da Sua Alteza.”

Goa inicial era apenas o território de Tiswadi, 30 ilhas, que foi expandido anexando Bardez e Salcete, incluindo Mormugão em 1543, formando as Velhas Cpnquistas, onde a maioria da população foi convertida ao catolicismo, nos termos do Tratado de Westefália, seja a religião do rei será a religião dos subditos. Os dominicanos converteram as viúvas dos 6000 muçulmanos caídos após a conquista de Goa.

Estabeleceu em Goa a sede administrativa e nomeou Timoja representante do povo, como interprete e conhecedor dos costumes locais, e chefes locais tornaram-se seus vassalos e prestaram-lhe tributo. Para defesa construiu  fortalezas e feitoria e transformou Goa numa cidade metrópole; promoveu casamentos entre seus militares e indianas, oferecendo a cada casal  um dote em terras, alfaias e dinheiro e em 3 a 4 anos houve mais de 500 casamentos em Goa, Cananor e Cochim, e Malaca; os noivos eram normalmente artífices, soldados jovens e também nobres em menor número e as mulheres pertenciam às castas altas; em 1511 conquistou Malaca, donde controlou todo o tráfico marítimo com o Pacífico; em 1515 ocupou Ormuz donde impôs a sua autoridade e suserania sobre  Golfo Pérsico 1507 – 1515, mas não conseguiu conquistar Aden, devido a sua morte em 1515; destruiu e abandonou a fortaleza de Socotorá em 1511, construiu mais fortalezas e novas feitorias e espalhou baluartes em pontos estratégicos em todo o oceano Índico e pôs uma esquadra permanente para controlar o tráfico e proteger as feitorias. 

Aos colonos concedeu o foral, carta constando os direitos, deveres, garantias, os impostos a pagar, etc. para organização do território. Este foral foi confirmado em 1516 por D. Manuel. Foi assim estabelecido um município com comarca, vereadores, juízes e procuradores, eleitos entre os colonos residentes e em cujas reuniões se assistia o Capitão de Goa e ali construíram opulentos edifícios, igrejas, conventos e monumentos, onde viviam, Governador, alta burocracia, ricos mercadores e os clérigos. Este centro urbano em 1524 possuía 450 fogos com 10 000 pessoas, sem contar com os hindus, muçulmanos e escravos, ao todo 30000 - 40000 pessoas, rivalizando-se com a Lisboa e era sede do arcebispado com jurisdição sobre toda a Ásia e costa africana oriental.     

Em 1519 entraram pela primeira vez nas terras de Salcete, sendo o Governador da Índia, Diogo Lopes de Sequeira, e capitão de Goa, Ruy de Melo. Acomodaram-se no pagode de Mardol, feito a moda de uma fortaleza, e debaixo de uma ramada levantaram um altar e ali rezaram uma primeira missa para consagrar a Deus as mesmas e mais tarde em 1612 construíram uma igreja, num alto, onde estava um cemitério hindu. Vernã  significa tempo de madrugada, terra fresca com muitas fontes. Aqui em Vernã em 1638 nasceu Custódio de Pinho, que, quando novo, foi levado por um jesuíta ao convento em Velha Goa e daqui mais tarde foi para Lisboa e depois para Roma, onde matriculou-se na escola “Propaganda Fide”, onde ordenou-se sacerdote e foi para Turquia aos 31 anos de idade, e em 1669, em Roma, foi sagrado bispo titular de Hieropolis e em 1671 voltou à Índia como sucessor do primeiro bispo goês, D. Mateus de Castro. Na Índia foi responsável pelo vicariato apostólico de Bombaim e pelo comissariado apostólico do reino de Grão Monghol, Idalka e Galconda. Fixou a sua residência na missão de Bicholim e ali ficou amigo de Sambji e sabendo que este pretendia assaltar Goa, transmitiu esta informação ao vice-rei e caindo no desagrado de Sambji passou a residir em Goa, onde foi-lhe fixada uma côngrua, faleceu em 14/4/1697, com 59 anos de idade. Encontra-se sepultado ao pé do altar da Nossa Senhora de Salvação da Igreja de Benaulim, onde jaz com o seguinte epitáfio:”HIC JACET PULVIS, SINIS ET NIHIL”.

Em 24 de Novembro de 1683 as forças de Sambji com 20 mil homens, 4 a 5 mil cavaleiros, 10 elefantes e os demais apetrechos de guerra então usados, apoderaram-se das terras de Bardez e Salcete, dos fortes de Tivim e Chaporá, da povoação de Margão, das Ilhas de S. Estêvão e cercaram a fortaleza de Rachol. Esta  ocupação é conhecida como Grande Invasão. O vice-rei, Conde de Alvor, atacou o inimigo na Ilha de S. Estêvão com 400 soldados, recrutados a última hora, os quais face ao poder inimigo precipitaram-se em fuga e muitos perderam a vida nas águas lodosas dos canais que cercam a ilha e o heróico vice-rei ficou com apenas 50 homens e resistiu toda a noite. Na noite seguinte mandou para a ilha de S. Estêvão a armada que estava preparada para a praça do norte de África e os invasores que haviam tido conhecimento da chegada de um grande exército comandado por Akbar, filho primogénito do grande imperador monghol, retiraram-se e deixaram a artilharia e muitas armas que não tiveram tempo de as levarem. No documento oficial o vice-rei, referindo-se ao episódio apenas diz apenas que “outras forças superiores” evitaram a sua derrota  nesse fatídico dia 25/11/1683. Face ao mistério mandou expor o corpo glorioso e venerado de S. Francisco Xavier e depois de orações e penitências  entregou-lhe o seu bastão de general, declarando-se que dali para o futuro o grande apostolo do oriente seria o verdadeiro governador-geral do Estado da Índia, mas quando do ataque dos maratas a Goa, em 1739, as autoridades ao  refugiarem-se em Mormugão esqueceram-se do venerando corpo de S. Francisco Xavier, o que tomaram como sinal de que era a vaontade de Deus que ele conservasse em Goa. Este bastão agora de S.Francisco, mais tarde, em Dezembro de 1958, foi entregue ao último Governador-Geral, do E.IP., brigadeiro engenheio Manuel António Vassalo e Silva, quando da sua chegada a Goa em 1958, numa cerimónia própria, após a imposição da grinalda de flores ao seu pescoço.

Estas  Velhas Conquistas eram os territórios de Tissvadi, seja 30 ilhas, Bardez, Salcete e Mormugão.

GOA-NOVAS CONQUISTAS: As forças do E.I.P estão em decadência e a sua frota está destruída e muitas posições portuguesas são abandonadas, como os territórios da Província do Norte, Baçaim e Chaul, aos maratas, que  em 1739 atacam Goa, contudo uma expedição de mais de 2 000 soldados com artilharia e dinheiro chegados de Lisboa derrotaram o exército marata em Bardez, dando início a uma campanha de pacificação até a década de 1750, em que o próprio vice-rei, Conde de Alvor, sofre a prisão e morte nas mãos dos marata em 1756. Seguiram outras campanhas entre 1779-1795, em que as armas portuguesas por conquista e também por negociações, como o acordo com o Rei de Sunde, anexaram ao território de Goa uma área quatro vezes superior ao seu tamanho, mas pouco povoado, área que foi designada de “ Novas Conquistas",  em complemento das “Velhas Conquistas”, limite que se manteve até ao séc. 20. Estas novas áreas são Quepém, em 1782, Pondá, Canacona e Cabo de Rama. Portanto, a actual área territorial de Goa foi formada com a luta com os maratas e por negociações.

Em 1779 chegou a Goa o jovem José da Costa Pereira de Almeida, nascido em 1760 em Braga, de 19 anos de idade, Foi ordenado padre em 1784 e mais tarde tornou-se Deão do Cabido da Sé de Goa. Este Cónego em 1787 nas Novas Conquistas fundou uma aldeia numa floresta, Desbravou a terra, fez arrozais, plantou coqueiros e outras arvores de fruta, construiu um mercado, hospital e outras facilidades para benefícios dos seus novos habitantes, atraidos pela obra feita. É a aldeia de Quepém. Para sua residência alternativa ali construiu uma espaçosa casa, mais tarde designada, “Palácio do Deão”. Faleceu em 1835 na sua residência oficial na Capela do Monte em Velha Goa. Este palácio hoje é propriedade da igreja de Goa e foi alugado ao Rúben Vasco de Gama, que o restaurou para sua residência e para fins turísticos. In. Agua Aberta no oceano. blogspot.com.24.04.2010, postal de goa (XIII), palácio de deão.

As Novas Conquistas eram habitadas por ranes, uma classe nobre dos maratas, mas foram acusados de promotores de revoltas  contra os actos da administração local que se afastava dos interesses locais com os seus preconceitos religiosos, a seguir a última revolta foram muitos ranes deportados e a sua raça quase extinta quando era comandante militar de Satari o Rola Pereira e Governador-Geral, Conceição da Costa. Mas houve também ranes que apoiaram as autoridades portuguesas, como os ranes de Sanquelim, cujos representante  Ramji Satraji Ranes Sar Dessai foi visitado em 1959 pelo governador-geral, Vassalo e Silva, no seu palácio de Cane e no salão nobre admirou a famosa galeria dos retratos, entre os quais, em lugar de destaque, do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia e do Infante, D. Afonso, que foi hospede do rane de Sanquelim quando na Índia, bem como as varias espadas de elevadíssimo valor, destacando-se nelas como relíquia preciosa a espada de prata com a coroa portuguesa em ouro que o infante, D. Afonso lhe ofereceu em recompensa dos seus serviços durante as revoltas  ao governo português. Também também se pode admirar o rico palenquim incrustado em ouro e pedras preciosas, oferecido pelo marajá de Gualier. Uma  filha da casa de rane foi rainha do Estado de Gualier. O  palácio tem mais de 500 anos.

MULHERES EM GOA, SEC. XVIII: Em Goa as mulheres europeias e mestiças só saiam da casa para ir à missa e para fazer visitas, acompanhadas de escravos, em palaquins cobertos, adornadas com pérolas e pedraria. Estavam proibidas pelos maridos em falar com homens, mesmo parentes. Em casa andavam descalças e usavam uma anaqua curta e uma saia de pano pintado. As mulheres nativas tinham o hábito diário de mastigar o betele, o que lhes enegrecia os dentes, e, como viviam em ociosidade, tinham tendência em namoriscar os europeus, embora houvessem também muitas mulheres honestas. Dizem que empregavam o sumo duma erva, chamada "Troa" para adormecer os maridos, quando queriam gozar livremente os seus amores. Igualmente, os homens, usavam a "Troa" para corromper as mulheres quando estas não aderiam aos seus desejos. In. arpore: mulheres de Goa no séc. XVIII, 14.06.2010. blogspot.com

DAMÃO: Situado na costa de Guzerate, entrou na história da Índia Portuguesa em 1530, devido a  guerra contra Cambaia. Depois  de diversas tentativas da sua conquista D. Constantino de Bragança conquistou-a definitivamente em 1559 e passou a constituir juntamente com Baçaim, cedida em 1533, a província do norte, que fornecia víveres e madeira à navegação e às praças portuguesas e recompensas a nobreza de Goa e dava 20% a 25% do rendimento total da Índia Portuguesa e tinha interesse militar para defender o sul dos ataques dos mongóis e dos maratas, os quais conquistaram Baçaim em 1738. Nesta altura, além do declínio religioso, há uma maior contestação do poder português por parte dos árabes, ingleses e holandeses e por maratas. Perdido Baçaim, seja a  Província do Norte, Portugal só conservou Diu e Damão e os os enclaves de Dadrá e  Nagar-Aveli. Damão alojou os jesuítas, Franciscanos e Dominicanos desde 1559 entre outros e constituiu um efémero bispado, 1886-1928, a pequena comunidade cristã dispersou-se por Moçambique e Portugal após anexação indiana em 1961.

DIU:  Em 1509 D. Francisco de Almeida ainda tomou parte na batalha de Diu, como vingança pela morte do seu filho, Lourenço de Almeida, vitória que permitiu o domínio mais de 100 anos. Depois de entregar o governo ao Afonso de Albuquerque partiu de Cochim para Cananor em Novembro de 1509 e daqui desembarcou no Cabo de Boa Esperança, onde foi morto numa rixa com os locais.

"" Em 1538 uma armada turca, vinda do Mar Vermelho, cercou Diu, 1º cerco de Diu. Isabel era jovem e bonita, e o marido lamentava ter trazido de Goa a família para viver em Diu. Isabel devia ir juntar-se aos pais em Goa até que passasse o perigo. Mas Isabel disse não, não e não!  Ao lado dele, nada a assustava.Tinha de ficar, quanto mais não fosse para o tratar se ficasse ferido, mas mandou a filha ir ter com os avós em Goa. Solimão Basha, exultante pela recente conquista de Aden, chegara com navios, cavalos, infantaria e toda a famosa artilharia turca para atacar estrondosamente as muralhas de Diu, que se esboroavam sob a sua ação.  Os turcos acorriam aos milhares, enquanto os portugueses, comandados pelo heróico capitão Antônio da Silveira, não passavam de 600 homens. Isabel da Veiga olhava em volta e via os homens fazendo prodígios para estarem em toda parte ao mesmo tempo. O canhão do inimigo abria enormes rombos na muralha. Para um lado e para o outro acorriam os defensores a juntar material para tapar as brechas, mas logo se escancarava outra fenda enquanto cada um ia e vinha. “É nisto que eu posso ajudar”, pensou Isabel, e foi buscar a sua velha amiga Ana Fernandes, mulher do cirurgião Fernão Lourenço.Enquanto as mulheres ali estivessem para ir buscar e acarretar, os homens não teriam necessidade de abandonar os seus postos.

Todas acorreram, novas e velhas, com baldes e cestas à cabeça, carregando madeira, pedra e cascalho, e tapando os buracos mal eles surgiam. Infatigáveis e intrépidas, iam e vinham enquanto o canhão troava e os mísseis se estilhaçavam em volta.

Isabel da Veiga e Ana Fernandes eram as guias e organizadoras deste improvisado corpo de mulheres, cuja coragem constituía para os homens uma fonte de inspiração.  Como era mulher de um cirurgião, conhecia alguma coisa dos primeiros cuidados a prestar aos feridos. Já em sua casa preparara tudo para tratar os ferimentos: ligaduras, unguentos e bálsamos, que ela própria aplicava enquanto as suas ajudantes batiam claras de ovos, que nesse tempo se empregavam para suturar as feridas. Ao mesmo tempo, ia alimentando os guerreiros com bons petiscos provenientes da sua cozinha.

Não tardou que todas as mulheres do forte seguissem o exemplo de Ana e Isabel. Algumas chegavam a vestir a roupa dos maridos e a combater como homens, mas a maior parte, ao que parece, ainda que entregue a pesado trabalho manual, não esquecia os mais suaves deveres femininos. E todos os momentos livres, quando os havia, eram passados na igreja ou em piedoso cortejo para cair de joelhos diante do altar.Todos os dias tombavam homens.

Chegou finalmente um dia em que só restavam quarenta homens em estado de pegar em armas. As munições achavam-se esgotadas, os alimentos frescos escasseavam e o escorbuto ia-se desenvolvendo. Toda a pólvora que restava foi dividida e distribuída em partes iguais por trinta panelas. Envergando os seus melhores fatos e encorajando-se uns aos outros com palavras animosas, esperaram pela morte no seu posto.O tempo passou-se, e os turcos sem aparecer. O silêncio tornava-se opressivo. Solimão recebera notícias de que o vice-rei vinha de Goa com toda a frota da Índia para acudir ao cerco de Diu. Desanimado pela prolongada resistência de um simples punhado de homens, o capitão turco não estava disposto a enfrentar reforços. Pela calada da noite, escapuliu-se com a sua armada para o Mar Vermelho. Estava salva Diu e a fortaleza foi reconstruída!

Mas poucos anos durou a paz. O rei de Cambaia, que, em 1535, tivera o gosto de ceder a península de Diu em troco da proteção portuguesa contra os invasores patanes, ao ver afastada a ameaça, ressentiu-se da presença de uma potência estrangeira que fazia sombra aos seus domínios.

Esse sentimento foi encorajado pelo famoso renegado levantino Coja Sofar, um dos maiores comandantes militares do Médio Oriente, o qual tinha acumulado terras e gozava dos favores da corte cambaiana. Foi ele que impeliu o rei a chamar os turcos e a pôr o primeiro cerco a Diu. Perante o fracasso, Coja Sofar passou os sete anos seguintes a preparar armas e a recrutar homens de todas as nações guerreiras que tinha à mão.

O segundo cerco de Diu durou de abril a novembro de 1546 e muitas das cenas atrás descritas se repetiram. É provável que ali se encontrassem algumas das mesmas mulheres, as quais desenvolveram idêntica ação. Sabemos que viviam nessa altura em Diu muitos casais. Todavia, a semelhança de nomes faz confusão e a nós mesmos perguntamos, por exemplo, quantas Isabéis lá havia nos dois cercos.

Desta vez, falam-nos de uma Isabel Madeira, que, como a velha Bárbara Fernandes, era mulher de um médico. Pelo que dizem, era uma zé-ninguém, de constituição delicada, e de mais a mais mãe de quatro filhos. Tal como Bárbara, enfrentou o sacrifício supremo quando o seu marido adorado morreu em combate. Com igual coragem, refreou quaisquer lamentações públicas e ainda consolava as amigas que vinham confortá-la.

Ainda nos falam de outra Isabel – a formidável Isabel Fernandes – espírito afim, ao que parece, de Ana Fernandes no cerco de 1538. Esta Isabel foi a primeira a abater um turco com uma pancada na cabeça, quando, a coberto da escuridão noturna, ele trepava pela muralha no ponto em que ela se achava sempre na linha de fogo. As ordens do governador determinavam que a guarnição se mantivesse dentro das muralhas até que ele chegasse com toda a frota da Índia. Isso deu-se algumas semanas depois, quando o cerco tinha sido levantado e estava ganha a grande batalha de Diu.“Isabel Fernandes, a Velha de Diu.””In. Spem in Alium: As heróicas portuguesas de Diu 14 de Janeiro de 2011

2º cerco de Diu 1546–57, defendido por João de Mascarenhas, auxiliado pelo Vice-Rei da Índia D. João de Castro, contra uma coligação de cambaianos, egípcios e turcos.chegou a Goa, em plena prosperidade, os quais encontraram o  governador D. Nuno da Cunha com armada pronta a socorrer Diu, sitiada pelos turcos.Nesta armada D. João de Castro foi no 1º navio, como soldado aventureiro e pelejaram contra os galeões turcos, obrigando-os a retirada. em 1546 Diu enfrentou o 2º cerco, em que os portugueses são derrotados, mas D. João de Castro mandou um novo reforço e ele próprio comandou uma expedição e o inimigo levantou o cerco e fugiu deixando prisioneiros e artilharia e para reedificar a fortaleza destruida solicitou aos vereadores da Câmara de Goa um empréstimo de 20 000 patacas para as obras de reedificação na sua carta de 23 de Novembro de 1546 em que diz que mandou desenterrar seu filho D. Fernando, morto pelos mouros na fortaleza de Diu, para empenhar seus ossos, mas que seu cadáver estava desfeito e que não pôde tirar da terra as ossadas, pelo que o único penhor que lhe restava eram as suas barbas, e que todos sabem que não possui ouro nem prata, nem móvel nem bens de raiz, mas apenas a verdade seca e breve que Nosso Senhor lhe deu. O povo de Goa lhe respondeu com uma quantia muito superior, conforme a carta de 27 de Dezembro de 1547. Agora D. João de Castro teve de combater de novo o Hidalcão e conquistou-lhe Bardez e Salcete e em recompensa o Rei nomeou-o “Vice-Rei” em 1547 e o governo por mais 3 anos e uma ajuda de 10 000 cruzados e ao seu filho D. Alvaro o posto de Capitão-Mor do mar da Índia. Mas devido ao desgaste da guerra adoeceu gravemente e entregou o governo ao Conselho de Goa, entre os quais S. Francisco Xavier, usando as seguintes palavras:

“Não terei, senhor, pejo de vos dizer, que ao vice-rei da Índia faltam nesta doença as comodidades que acham nos hospitais o mais pobre soldado. Vim a servir, não vim a comerciar ao oriente; a vós mesmo quis empenhar os ossos do meu filho, e empenhei os cabelos da barba, porque para vos assegurar, não tinha outras tapeçarias nem baixelas. Hoje não houve nesta casa dinheiro, com que se me comprasse uma galinha, porque nas armadas que fiz, primeiro comem os os soldados os salários do governador, que os soldos do seu rei; e não é de espantar que esteja pobre um pai de tantos filhos. Peço-vos, que enquanto durar esta doença me ordeneis da fazenda real, uma modesta dispensa e pessoa por vós determinada, que com modesta taxa me alimente.”

MEDIDAS POMBALINAS:  Pombal decretou a liberdade de comércio, instituiu uma Junta para assuntos financeiros, criou celeiros públicos, reorganizou o sistema municipal, extinguiu a inquisição, mas que depois D. Maria a reabilitou, no entanto  durante as invasões napoleónicas quando Goa e Portugal se encontravam praticamente ocupados pela Inglaterra a inquisição foi definitivamente extinta em 1812. A Inquisição chegou a Goa em 1560 e devido a sua acção de manter a fé pura muitos goeses convertidos, mas perseguidos por ela,  fugiram e estabeleceram-se nas cidaddes vizinhas de Mangolore e Karvar. Pombal extinguiu igualmente  o título de vice-rei e o substituiu pelo título de governador. Em reforço das leis de 1569 e 1572, as quais decretavam oficialmente que a única barreira para a obtençao da cidadania portuguesa era a religião, e vendo que  na prática a discriminação mantinha, Pombal promulgou a Carta Pombalina declarando todos nascidos na Índia Portuguesa iguais aos nascidos em Portugal e  afirmou que todos os súbditos cristãos da sua majestade nascidos na Índia terão as mesmas honras dos nacionais do reino e dava preferência aos naturais que mostrassem aptos nos exames para as ditas honras, dignidades, empregos, postos e cargos e na aceitação nas ordens religiosas e estipulou também severas penas aos que desprezassem ou fizessem distinção no tratamento e civilidade para com os ditos nativos da Índia, ou seus filhos ou descendentes, chamando-lhes pretos, ou mestiços ou dando-lhes outros nomes odiosos.

CONVULSÕES POLÍTICAS: Por motivos de discriminação relativamente aos clérigos da metrópole, e por ideais liberais,  em 1778 houve reacção contra os metropolitanos e em 1787 descobriu-se uma campanha para expulsa-los, a conjura dos Pintos. Os seus chefes eram os padres, José António Gonçalves, Abade Faria que fugiu para a França e Francisco Couto que foi executado em 1788 na prisão da Fortaleza de São Julião de Barra em Lisboa por condenação por alta traição por morte à forca após o esquartejamento do seus corpos, como era uso na época para crimes idênticos.

Revolta dos Maratas 1895-1896: insubordinação dos soldados maratas ou Revolta dos Ranes durante o governo do general Elasbão de Bettencourt Lapa com repercussão na metrópole e no ultramar, teve origem nas divergências entre Francisco Xavier Alves, bispo de seita siríaca e o administrador do concelho das Ilhas futuro Marechal Gomes da Costa e devido a ordem de enviar 2 companhias maratas para Moçambique e segundo um preconceito religioso perderiam a casta se atravessassem o mar e é também uma revolta para expulsão dos europeus – os amotinados refugiaram-se no forte de Nanuz e a população de Satari os apoiou e invadiram Mapuça e Sanquelim, Lisboa mandou novo governador Rafael de Andrade, o qual iniciou repressão que provocou guerrilha e emboscadas. Estas revoltas eram contra a administração local que se afastava dos interesses locais com os seus preconceitos religiosos e levaram pa ara a India dois membros da Família real portuguesa,como comandantes das forças expedicionárias, o Infante D. Augusto, irmão do Rei D. Luís, e depois o infante, D. Afonso, irmão do Rei D. Carlos, que chegou a Goa em 12/11/1895, e o governador foi exonerado e substituído pelo infante, que foi nomeado vice-rei (19-3-1896-27-5-1896) a sua acção acalmou a revolta e os revoltosos foram amnistiados.

REIVINDICAÇÕES DA UNIÃO INDIANA: Sarat Chandra Boss, ministro do 1º governo de Nehru e irmão de Subhas Chandra Boss, defensor de derrube dos ingleses pelas armas, foi adepto de anexação de Pondichery, Goa, Damão e Diu, e, galvanizador dos chamados "lutadores pela liberdade destes territórios", com, Tristão de Bragança e Cunha, engenheiro, formado em França, de formação ideologica fascista-leninsta, e, era representante do Boss em Goa. Este movimento nacionalista da unidade da Índia, Indutva, após a independência da Índia em 1947, apresentou em 1949 a sua reivindicação aos territórios de Goa, Damão e Diu, depois de negociar a integração dos territórios franceses de Pondicherry, etc. Salazar recusou a proposta com base de que o Estado Português da Índia era mais antigo do que qualquer outro do subcontinente e que aqueles territórios eram partes integrantes da Nação Portuguesa. O movimento Indutva tinha por inspiração o princípio facista bosseano de "guerra justa" para construção duma nação indiana/hindu, onde todas as minorias, muçulmanas, católicas e siks, seriam toleradas, mas, consideradas estranhas à tradição indiana. Foi este o princípio que em 1961 serviu para ocupação de E.I.P. In. Combustões.blogspot.com, 10.01.2010.

Face às reivindicações da União Indiana, Portugal restringiu o Padroado Português no Oriente aos limites territoriais do Estado da India Portuguesa, ficando reduzido a 1/10 do que era a Arquidiocese de Goa. Em 1950 Portugal e a Santa Sé assinaram um acordo e Portugal renunciou as Sés de Mangalore, Quiloa, Cochim, S. Tomé de Meliapor, Trinchirópoles e Bombaim, mantendo apenas a dignidade metropolitana e patriarcado de Goa.

Nos finais de 1953 a Índia decretou bloqueio económico ao E.I.P e impôs vistos para circulação das pessoas à Índia. Em 1954 o Governador de Damão ao viajar para os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli foi impedido pelas autoridades indianas, e as comunicações para aqueles enclaves foram cortadas  e um grupo de separatistas goeses, enquadrados pelas forças de polícia, ocuparam o enclave de Dadrá, onde morreram em combate o Subchefe de Polícia, Aniceto do Rosário, natural de Diu, e o Guarda António Fernandes, natural de Damão. No mesmo dia, com o mesmo processo ocuparam Nagar-Aveli. Dia 15 de Agosto de 1954, um grupo de satyagrahis ( em que Satya:verdade; Agraha:firmeza ou força = força da verdade e ahimsa:não violência, duas armas que Mahatma Gandhi usou para a independência da Índia) ocuparam o Forte de Tiracol, mas a Polícia retomou-o e hasteou a Bandeira Nacional arriada horas antes. Janeiro de 1955  e depois em 15 de Agosto de 1955, data da independência da Índia, 700  satyagrahis penetraram em Goa e Damão  mas foram reprimidos pela polícia portuguesa, registando 15 mortos e 38 feridos.

Depois destas tentativas,a Índia encerrou as fronteiras, estabeleceu o bloqueio comercial, censura a correspondência postal e o corte de transferência de fundos. Dia 8-8-1955  encerrou a legação portuguesa em Nova Delhi, depois de corte de relações diplomáticas com Portugal.

Em 1956  grupos armados separatistas desencadearam ataques militares contra os postos fronteiriços e esquadras da políticia no interior de Goa e emboscadas as tropas portuguesas, causando também,roubos, mortes e feridos entre as populações e pessoal da Polícia, bem como a destruição parcial das instalações duma empresa mineira em Sirgão,e  em Setembro de 1957 após um ataque a um posto de Ancorem, no NW de Goa, registaram-se choques entre militares portugueses e forças da UI.

Enquanto isso a União Soviética pediu na  Comissão de Curadoria das NU em 4 de Novembro de 1954 que a Assembleia Geral das NU fizesse fiscalização da situação nos territórios do E.P.I. A Comissão de Curadorias da ONU em 29 de Janeiro de 1957 aprovou uma monção para constituir uma comissão investigar se os membros admitidos em 1955 possuíam ou não territórios não autónomos, mas  a Assembleia-Geral das NU votou contra este pedido.

Portugal em 15 de Dezembro de 1955 foi admitido nas NU e no dia 22 Portugal apresentou queixa contra a União Indiana – a propósito de Dadrá e Nagar-Aveli – no Tribunal Internacional de Haia e em 15 de Junho de 1956 apresentou mais elementos a reforçar a sua queixa.

Em 1958 chegou à Goa o novo governador, o brigadeiro engenheiro Manuel António Vassalo e Silva.

O Tribunal Internacional de Haia, em 12 de Abril de 1960  reconheceu a soberania portuguesa em Dadrá e Nagar-Aveli e o direito de trânsito através do território indiano a pessoas privadas, funcionários civis e mercadorias para exercício dessa soberania, com a condição de o trânsito de tropas portuguesas ser possível apenas com a autorização da Índia, mas em 11 de Agosto de 1961 a Índia integrou os dois enclaves, que uma faixa de 26 km separava de Damão e os seus 51 000 habitantes passaram a ser cidadãos indianos.

No decorrer desses períodos foram formando partidos:

1) Congresso Nacional (Goa), fundado em 1946 sob chefia de Peter Alvares e    membros, Telo Mascarenhas e António Furtado;

2) Partido do Povo Goês – Fundadores Divakar Kakodkar e Jorge Vaz em 1944, dissidentes do Congresso esquerdistas comunistas, que depois participaram na ocupação dos enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli;    

3) Frente Unida dos Goês – Fundadores Francis Mascarenhas e Waman Dessai, dissidentes do Congresso em 1950, pretendiam um estado autónomo dentro  da UI, contra a sua integração no Estado de Marashtra;

4) Azad Gomantak Dal (Grupo dos goeses livres) – Fundador V.N.Lawande, 1954, expulso do Congresso – extremistas hindus e ligados a actividades clandestinas no E.P.I.;

5) Comité de Acção Goesa – Fundado por Tristão Bragança Cunha em 1954 marxista, libertação de Goa;

6) Conselho de Libertação Goês – Alguns católicos de Bombaim formam em 1954, no caso de anexação querem assegurar liberdade religiosa aos goeses.

Apesar desses partidos, a grande massa da população, a mais humilde e inculta e considerável sector da população, não se manifestou contra o  Governo de Goa, No entanto havia um grupo dos intelectuais defensores de autonomia, como o advogado Dr. António Bruto da Costa, que em 1960 preparou um Projecto de Estatuto de Autonomia Administrativa e Financeira do Estado da Índia, cujas bases assentavam no respeito e reconhecimento da bandeira, língua, civilização e cultura portuguesas e previa um governador-geral, delegado do Governo da Nação, ficando a cargo deste a defesa e as telecomunicações. O sector contrário à soberania portuguesa, jaindista, menos numeroso, mas mais activo, defendia a integração na UI.

Ataques pré-invasão e invasão: Em 25 de Abril de 1961 é atacado o posto de polícia de Betim, perto de Pangim, morrendo dois guardas goeses. Em Novembro de 1961 embarcações indianas, incluindo o navio de passageiros Sabarmati, tentam várias vezes o desembarque na Ilha de Angediva, obrigando à sua guarnição abrir fogo. Dia 14 de Dezembro de 1961 um grupo de seis elementos civis armados atacam o posto militar de Bali, e é preso um dos elementos atacantes, Haridanath Balbarau Sardessai.

Prevendo a invasão de Goa por Índia, Portugal informou o Conselho de Segurança das Nações Unidas da actividade bélica da parte da Índia em relação aos territórios portugueses, destacando-se a partir do dia 8 de Dezembro de 1961  até ao dia 17 a flagelação e ataques aos postos fronteiriços portugueses, concentração das unidades navais indianas, de 5 fragatas, cruzador Mysore e porta-aviões Vikarant, nas águas territoriais goesas, concentração na fronteira terrestre de 5 esquadrilhas aéreas, violação do espaço aéreo em Goa, Damão e Diu, sobrevoo do navio mercante português e das embarcações portuguesas

As diminutas forças portuguesas, constituidas de 3 500 metropiltanos e 900 goeses, sem aviação e material bélico de longo alcance, para demonstrar a sua política de não beligerência abandonaram os postos fronteiriços sem ripostar as provocações das forças indianas, dando início ao plano Sentinela de concentração das suas forças em Mormugão, como último reduto de defesa.

A meia noite do dia 17 de Dezembro de 1961 a operação Vijaya deu início a invasão do E.I.P, com tanques, infantaria, artilharia, tropas aerotransportadas, unidades anfíbias, engenharia e aviões a jacto, com um total de 45 000 homens de choque - mais 25 000 reservistas, enquanto do lado português havia 3 500 militares da Metrópole e 900 goeses, sem aviação e material bélico de longo alcance. Para atrasar o avanço das tropas indianas, a tropa portuguesa destruiu as pontes de Ordofondo, Borim e de Bicholim. Apesar disso atingiram Pangim pelas 11H00 do dia 18 de Dezembro, onde as forças portuguesas renderam-se.

Dia 18/12/1961, a aviação indiana bombardeou nas primeiras horas de madrugada a Emissora de Bambolim de Goa, cortando as comunicações, excepto com Lisboa, visto que a Estação de Radar do Aviso de Guerra Afonso de Albuquerque manteve a comunicação até às 10H30 e pelas 07H00 o aeroporto de Dabolim e a Estação Radionaval.  Por volta das 09H00 3 fragatas indianas avistaram-se ao largo de Mormugão, e palas 12H00  abriram fogo de artilharia e atingiram um dos 5 navios mercantes fundeados na baía. Em resposta o único navio da marinha portuguesa, o Aviso Afonso de Albuquerque, respondeu à marinha indiana e atingiu uma das suas fragatas, que foi substituída por um destróier, mas a torre do Aviso Afonso de Albuquerque foi atingida pela navios indianos, causando ao seu comandante, o capitão-de-mar-e-guerra, António de Cunha Aragão,  gravemente ferido, e a morte do 1º grumete telegrafista. O  comando foi assumido pelo 2º tenente Sarmento Gouveia, ao mesmo tempo uma outra fragata indiana foi atingida, e substituída por uma nova unidade e por volta de 12H35 foi ordenado o encalhe do navio, frente à praia de Bambolim, depois de perder a sua capacidade combativa e depois de infligir 18 baixas a marinha indiana, sendo 5 mortos e 13 feridos e cerca de 12H50 deu-se início ao abandono do navio a nado e o comandante foi transportado numa viatura ao hospital Escolar de Pangim. Mas apesar de o aviso se encontrar encalhada e com bandeira branca içada os  navios indianos continuaram a fazer fogo atingindo as zonas da terra onde  a sua tripulação se refugiara. A acção da marinha indiana só terminou pela 17H00. E cerca de 13H00 do dia 19 a sua guarnição foi aprisionada.

Pelas 22H30 do dia 18, o Tenente-Coronel Solano de Almeida, director dos TAIP levantou voo com o avião dos TAIP, juntamente com um outro avião dos TAP, chegado na madrugada do mesmo dia.

Na Ilha  de Angediva houve resistência e as forças indians sofreram grandes baixas; Damão, depois de combate das  04H00 dia 18-12 até 07H00 de 19-12, é ocupado, com baixas parte a parte, ficando ferido, do lado português, o major governador, António José da Costa Pinto; Diu foi atacado, das  7H00 dia 18-12, onde  a lancha “Vega” sofreu ataque do cruzador indiano obrigando-a a fundear-se, mas às 06H15 a Vega preparou-se ao combate  e abriu fogo sobre dois aviões a jacto preparados a bombardear a fortaleza, atingindo um dos aviões, obrigando-o a aterrar. Neste combate morreu um artilheiro. Num segundo combate morreram 3 marinheiros. Os sobreviventes nadaram para a terra com os feridos.

Dia 19 de Dezembro de 1961 restava apenas a rendição das forças em Vasco de Gama, onde a Guarnição do Forte de Aguada, ofereceu resistência ao ataque das forças indianas, desde 04H00 de madrugada, rendendo-se por volta das 7H30, sem baixas portuguesas, causando as forças indianas a morte dum major e dum capitão e vários militares mortos e feridos.

O Governador-Geral, Vassalo e Silva, optou-se pela rendição, pelas 12H00 do dia 19 de Dezembro de 1961.Era na altura o Patriarca da Índia, Arcebispo de Goa, Damão e Diu, José Vieira Alvernaz (05.02.1898/13.03.1986), natural dos Açores, que junto do Governador o influenciou para decidir na rendição das tropas portuguesas. Ele saiu de Goa em Setembro de 1962 e manteve o seu título até à assinatura do Tratado de 31.12.1974 entre Portugal e Índia, reconhecendo aqueles territórios como indianos.

Durante a invasão, constam 27 mortos europeus do lado das tropas portuguesas, não se sabendo o número dos mortos dos militares e polícias naturais de Goa, Damão e Diu. Do lado indiano, constam no Monumento aos Martires de Libertação de Goa, frente ao Quartel-Geral de Polícia, em Pangim, 600 mortos.

Sem comentários: